Do gueto nova-iorquino para o mundo

por Larissa Gonçalves

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A cultura hip-hop, desde o auge da era disco, nos anos 70, vem se recriando, juntamente com seus quatro elementos: o Rap, o DJ, o Grafite e o Street Dance.

Por haver, nos bairros americanos, brigas de gangues na disputa de territórios, com agressões e mortes, um precursor do movimento cultural hip-hop, Afrika Bambaataa, contribuiu para que as gangues resolvessem suas diferenças através das chamadas “batalhas”, disputas dançantes em que um dançarino “quebra” o outro, no sentido de dificultar a movimentação (batalhas de break) dentro das Block Parties. Com isso, a violência entre as gangues amenizou-se pouco a pouco.

O Rap (ritmo e poesia) constitui-se por uma fala ritmada e rimada, com expressões que refletem a realidade dos jovens e os problemas sociais que enfrentam. Os DJ’s (discotecários) manejavam aparelhos de mixagem durante festas, com o intuito de produzir novas músicas e sons, com indumentária própria. Os Grafites eram demarcações de territórios entre gangues rivais, através de Tags (assinaturas) que, aos poucos, transformaram-se em forma de expressão artística.

Os primeiros dançarinos – Breakdancers e B. Boys – executavam movimentos e estilos derivados do funk, desenvolvendo outros estilos/modalidades, como o Lockin, o Popping, o New Style e o Bboyng.

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A atividade dos B’Boys em Manaus é tentar expandir a arte que apareceu aqui no Brasil já com o Afrika Bambaataa. Muitos dos street dancers ministram aulas gratuitamente nas escolas da cidade. Esse é o caso de Vandeildo, mais conhecido como B’Boy Maranhão, um dos destaques da cena hip-hop manauense.  O B’Boy e grafiteiro ensina a arte hip-hop para crianças e adolescentes no bairro de Santa Etelvina há mais de 10 anos. “A finalidade das aulas é ocupar a rotina das crianças, pré-adolescentes e adolescentes, ofertando-lhes um meio de inserção social.. Para muitos o hip-hop termina sendo uma válvula de escape do vandalismo, rumo a um caminho melhor… um caminho da paz”, afirmou convicto.

Fato é que mais e mais adolescentes têm se interessado pelo hip-hop e pelo street dance; muitos, inclusive, oriundos de classes mais abastadas, quebrando o paradigma de que essa arte restringia-se à periferia das grandes cidades. Afinal, este é mesmo o seu objetivo: procurar mais adolescentes, dar mais apoio a eles, incentivando–os nas suas vidas, auxiliando na sua educação e na busca por melhorias de vida.

O Rap continua sendo uma forma de criticar as autoridades e apontar os problemas sociais, que se concentram dentro da periferia, mas vão muito além. Com o hip-hop, no entender de Maranhão, pode-se observar uma verdadeira revolução, pois a falta da cultura tradicional não mais impede o desenvolvimento da cultura crítica. “A dança de rua é expressão artística e corporal e, ao som do rap/funk, tende a viabilizar o diálogo entre a sociedade, com seus problemas atuais e corriqueiros e os centros monopolizadores do poder. Quando ele não pode chegar nessas pessoas, como ele vai enviar a mensagem? Através do rap. Muitas vezes as pessoas criticam a cultura hip-hop porque ela vem da periferia, mas hoje em dia estão buscando quebrar este tabu porque ela está em todas as classes sociais”, concluiu.

Maranhão explicou ainda, com entusiasmo, que assim como as artes marciais, o hip-hop possui conceitos de filosofia próprios; suas aulas, por exemplo, envolvem desde os conceitos de vida à dança, do power move (giro corporal), do freestyle (estilo livre) e também às normas do B-Boy.

A cultura hip-hop – cultura da rua -, é bem ampla. A street dance é uma variação da cultura de rua. “Na parte da dança, envolve estes vários movimentos, que dão origem ao break, e por isso tem o b’boy, o break-boy. O hip-hop ajuda em diversos movimentos. No power move, ao mover minha coluna, tenho que suportar o peso do corpo. O power move trabalha com toda energia do seu corpo. Eles são um beneficio para o adolescente ser um cara saudável, resistente e com uma disposição para lutar pelas coisas que interessam pra nosso povo”, diz Maranhão, enquanto mostrava alguns passos.

O hip-hop foi uma cultura que surgiu mesmo nos guetos e que grande parte das vezes só é analisada por esse ponto de vista e a partir da idéia que se tem da periferia. E quando a mídia trata destas questões é, na grande maioria das vezes, de uma forma excludente. Mas isso está mudando…

utro membro da primeira geração do hip-hop em Manaus, o b’boy e empresário Amarildo do Nascimento, conhecido nas “quebradas” como Gato, ou Mestre Gato, conta aqui um pouco da história dos b´boys e de sua atuação em Manaus.

“Eu já estou no hip-hop há muito tempo, na categoria b’boy. Na verdade, desde a década de 80, quando Michael Jackson estourou nas paradas”, diz Amarildo. Dessa fase, conhecida como primeira geração do hip-hop, ele destaca a contribuição de grandes grupos e cita como exemplo o Zulu King e o Break Revenge. A segunda geração veio através dos Irmãos Fúrias, Irmãos Cobras, dentre outros.

Ao ser questionado sobre a origem do termo “B’Boy”, Amarildo explica tratar-se de uma gíria americana que quer dizer Break Boy, o Boy Quebrado, ou Grande Garoto, como alguns grupos americanos usam. “E chegou aqui pelo Brasil nos anos 90. Antes nós só conhecíamos como Garoto Quebrado, ou Garoto que Quebrava. As primeiras danças foram difíceis de chegar por aqui e nós tomamos contato através das fitas. O b’boy de antigamente, nos Estados Unidos, era briguento, de gangues, e aqui em Manaus até chegou a parecer com isso, mas a moçada queria mesmo era aprender a dançar e se divertir”, afirma convicto.

Conquistando jovens de todas as idades, inclusive os de quase meio século, como Amarildo, a filosofia da dança hip-hop tem transcendido gerações, num ritual no qual os mais novos ao aprenderem já ensinam para outros. A ideia é passar para a comunidade mundial o que tem de melhor no b’boy, que tem transformado a conhecida rivalidade em espírito esportivo, nas competições de dança. “Mas o verdadeiro b’boy deve ser exemplo de cidadania, inclusive para a própria sociedade”, conclui Amarildo, com orgulho.

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